quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tupida

Olá, estou a escrever outra vez para ti, minha parva! Deixaste-me sem televisão. grrrr. Mas olhando ao que deixaste nos comentários e respodendo-te... eu realmente não estava minimamente preocupada com o que me esperava na recruta, estava expectante, preocupada não... chateou-te da mesma maneira que chateou as minhas camaradas de recruta, o espírito com que fui para ali... eu estive dois anos a morar a 5 kms de ti e nunca te conheci enquanto lá estive, esses dois anos foram complicados para mim. Fui para lá com 19 anos, morar sozinha, não conhecia ninguém, estava a dar formação numa escola pública mas continuava sozinha, os outros eram professores a sério, mas eu... eu estava a dar a cara por uma empresa que não valia nada, que fazia publicidade enganosa, e que enganou muita gente. Os cursos eram pagos, evidentemente, e não eram baratos, muitas pessoas ficarama arder, dos clientes e dos empregados. A mim ficaram-me a dever perto de 500 contos em ordenados e subsidio de férias. Mas tudo isto para quê? Apenas para te explicar porque é que estava tão descontraída. Quando fui para a recruta, não fui sozinha, havia mais gente, eu não estava sozinha, estavamos todos para o mesmo, podiamos apoiar-nos mutuamente, ou podia eu apoiar toda a gente, como vim mais tarde a descobrir por mim própria. O meu problema não está em adaptar-me, adapto-me muito bem a novas situações, apenas tenho um senão, não me consigo adaptar a solidão... Mas ali estava eu, frequinha para entrar para a recruta. Tinha uma certe noção do que me esperava, saber... saber só sabemos depois de passar pelas coisas... é claro que não estava a espera de andar logo desde o segundo dia de recruta a descer escadas de costas de tantas dores que tinha nas pernas, até porque no primeiro dia nem houve exercício físico nem nada, apenas estivemos duas horas formados ao pé da messe, porque iamos fazer xixi para o copo no andar de cima... mas foram duas horas que me deram logo cabo dos joelhos...
O espírito com que para lá entrei, foi o espírito que mantive até ao fim... a maneira mais facil de ultrapassar momentos dificeis na nossa vida é levar as coisas com leveza... Foi precisamente isso que fiz, tentei fazer tudo o que me mandavam, só não fiz o que não consegui, mas ninguém me ouvia queixar... engraçado, lembro-me como se fosse hoje... houve uma rapariga do meu pelotão, ele era SS, foi-se logo embora a seguir a recruta, para o Lumiar, nao me lembro bem, mas penso que o nome dela era Ferreira. Ela chegou só no dia a seguir ao primeiro dia de recruta, e à hora de almoço, já estava a chorar... lembro-me tão bem dos olhos dela, vermelhos, e de olhar para mim e perguntar: "voçes gostam disto?", ela era filha de um ajudante, pensei que deveria ter uma noção do que era a tropa... mas não tinha, e estava desesperada. Ela era uma das duas que ao Domingo a noite já estava agarrada ao telemóvel a chorar que se queria ir embora, acho que eu na altura era um pouco inconsciente, mas não podia evitar entrar na camarata a rir. Falei nela por uma coisa. Ela não gostava muito de mim, apesar de eu andar sempre a puxar por elas, por ela e pela Piteira, lembras-te? Mas a Piteira era diferente, essa idolatrava-me, tentava-me imitar, mas ela não gostava de mim por eu me rir delas... só que ria-me delas, e ria-me de manhã quando ia tudo a sair do alojamento para ir para a primeira formatura, e ia tudo coxo a minha frente, até as cadetes e tudo, dizia-lhes: "saiam da frente suas coxas!!!", grande moral, eu que estava tão coxa quanto elas... mas essa rapariga chegou ao pé de mim no final do juramento de bandeira e disse-me: "eu admiro-te! Porque eu não acredito que tu não tenhas as dores que nós temos, que não tenhas bolhas nos pés como nós, nem que não te custe tanto, ou se calhar até mais do que a nós, e não te oiço queixar, não vejo uma lágrima, e andas-te sempre a rir!" Isto foi uma coisa que me ficou marcada, mas que acho que reflecte o espírito com que enfrentei a recruta. Foi o mesmo desde o início até ao fim. Só me fui abixo quando fiquei lá de fim de semana de castigo por ter fumado na prova de OTOP porque de resto andei sempre bem disposta. Andava era sempre a encher por não me vergarem, mas pronto, isso é outra história.

Isto tudo para te explicar a minha descontracção...

Agora, falando em memórias, a minha memória trai-me de vez em quando... invadem-me memórias todas ao mesmo tempo, mas quando tento isolar uma para falar dela, desaparecem todas. Ainda há pouco me estava a tentar lembrar de uma coisa que me contaste um dia aqui no quarto, sobre uma resposta que um ex teu te tinha dado na altura, e que eu me ri como uma perdida, aliás, duas horas depois, cada vez que me lembrava desatava a rir sozinha, mas não me consigo lembrar do que foi. E tu também não, de certeza... Mas lembro-me por exemplo, de como me fartei de rir de ti, quando foste tirar o aparelho dos dentes, e tiveste que cortar o freio da gengiva, estavas tão cómica a falar... bora jogar ing-ong?
Tenho saudades das nossas horas de almoço, até de estar a tua espera eu tenho saudades... ou de ficar com o rabinho na cadeira enquanto tu vais buscar salada para as duas. Aliás, não quero saber, enquanto eu cá estiver vens cá almoçar comigo, porque estou um bocado cansada de estar constantemente a dizer sim aos maçaricos, uma pessoa nem come descansada... vá lá que agora as mesas estão dispostas de forma a serem menos pessoas por mesa porque estar a correr uma mesa co 500000000 pessoas a ver se sou eu a mais antiga, vai lá vai!

Tenho saudades dos nossos jogos de matrecos a solo uma com a outra, riamos-nos tanto! Tu principalmente com o meu mau perder...
Tenho saudades... tenho saudades tuas minha tupida... fazes-me tanta falta... fazes-me falta nos maus momentos, mas fazes principalmente falta nos bons que não são tão bons por não estares aqui...
Estava-me aqui a lembrar das nossas primeiras idas ao clube para não parecermos bichos. Lembro-me particularmente daquele em que ainda cá estava um cabo velhinho da policia, o Abreu, lembras-te? E de irmos as três, eu, tu e a Gonçalves... e o homem não nos queria deixar ir embora, aliás, tivemos de disfarçadamente beber a cerveja, já quente, da Gonçalves porque ela não estava habituada a beber. E depois quando ele disse que duas podiam ir embora mas que uma tinha de ficar. Lembro-me tão bem! A Gonçalves desgraçava-se se ficasse, a mulher não tinha ponta por onde se lhe pegasse. Decidi ficar eu, tu sentiste-te tão mal por me deixares lá sozinha... também não fiquei muito mais tempo porque entretanto o homem já estava tão bebedo que se esqueceu de mim, só que eu tinha um problema, o meu sentido de orientação. E como é que eu ia do clube para o alojamento? Estava lá o Nogueira que acabou por me ir levar, foi a minha sorte, apesar de ter de levar com as teorias dele. Na altura não achamos muita piada a situação, mas depois já nos rimos disso... nunca mais na minha vida beberei cerveja quente!

E quando começaste a nadar? Tu dirias que era preciso muita paciencia, e que tive muita paciencia contigo, por causa da tua fobia, mas mana, não foi preciso paciencia nenhuma, era uma coisa que eu queria, que tu perdesses o medo da água. Mas confesso que foi muito engraçado, quando desceste daquele escorrega para uma piscina com água pela cintura e quando chegaste cá em baixo entraste em panico por causa de te ter entrado água para o nariz. Bem! Tu escorregavas naquilo de uma maneira.... para meu azar, que tinha de me arrastar para sair do escorrega e tu nem esperaste para me ver sair mandaste-te logo. Eu realmente precisava de um empurrãozinho. E as primeiras braçadas que deste? Cada braçada que davas afundavas-te um bocadinho, terceira braçada já estavas completamente submersa... era tão engraçado! Ou aquela vez em que estavas solta na piscina já com água pelo peito e eu reparei que não estavas agarrada a nada, e quando fiz o comentário, entraste em panico porque não te tinhas apercebido. Adorei os nossos verões, tanto nas piscinas, como na praia, a apanhar ondas, lembras-te? e mesmo no aquashow... a malta pode ter fome, bora levar dois quilos de maçãs...

Fogo, tenho tantas saudades de tudo, até das nossas zangas... e depois quando nos voltavamos a entender de ti a dizeres-me como eu era uma besta a dizer as coisas...

Adorei quando me ligaste a dizer que tinhas passado nos testes físicos, tanto no ano passado como neste... embora tenha ficado um bocadinho melindrada por este ano não me teres dito que ias fazer... pronto, no ano passado três das tentativas fizemos juntas, só que eu passei a terceira e tu não... senti-me mal na altura, e até te falei nisso, por te ter deixado para trás, tu estavas a abrandar o ritmo e eu tive de seguir para a frente... depois acabaste mesmo por desistir e a Gerónimo fez a ultima volta comigo...

Tenho saudades, de apesar de termos saido poucas vezes juntas, tenho saudades de sair contigo... Aquela vez que saimos quando eu estava naquele estado de entorpecencia com a vida, e tu saiste só por causa de mim, porque estavas cansada... e foste, e ainda tiveste de me aturar com os copos, ainda por cima torci o pé... aliás, assim que o torci nem me mexi mais, vi logo o que tinha ali, já conheço tão bem o som dos fiozinhos dos musculos a partir, quer dizer, não é o som, é o sentir, mas é como se fosse um som. A Martins é que foi logo ter comigo porque vinha atrás de mim... e estava a chover tanto, tiveste de ir a chuva a correr buscar o carro para eu não ter de andar naquele estado. Paráste na Galp para comprar gelo, mas só vendiam aos sacos de um kilo, nem te dei tempo de tirar uns cubos para pôr no tornozelo, peguei mesmo no saco... aturaste-me tanto nessa altura, eu estava tão parva... até metia dó! E tu não sabias o que me havias de fazer porque eu estava a desistir... estava tão perdida, tão sem esperança de me encontrar, parecia naquela altura que tudo me tinha corrido ao contrário, e eu não só tinha perdido todo e qualquer objectivo como nem sequer tinha já vontade de sonhar, mas tu estavas lá...
Não houve queda que eu tivesse dado desde que apareceste na minha vida, que não tenha sido amparada por ti, e que tu não tenhas sentido também... cada uma de nós não consegue conter as lágrimas quando vê chorar a outra... e apesar de ir chorar menos agora, porque não te vejo a dor quando ela aparece, dói-me na alma por saber que mais ninguém vai ter capacidade de chorar contigo... quando tu precisares...

Também te adoro mana do coração, e uma coisa te garanto, se tu não tivesses existido na minha vida, eu hoje não estaria aqui. Foste tu que não me deixaste desistir...

2 comentários:

Ana "Strobe" Mendes disse...

...tenho uma correcção a fzr..eu n fui buscar gelo ao posto da galp, mas sim ao da BP...lol...tal era a besana...ainda me lembro da xoradeira pq n conseguias encontrar o telemovel dentro do carro, e eu a pedir-te por favor pa te comportares qd xegássemos a porta de armas, e tu a beber as lágrimas disseste: "eu porto-me bem, prometo..." logo de seguida outra choradeira...estavas tão bebeda...ja nem te deves lembrar que te pus uma almofada debaixo do pé, tu já n tinhas tornozelo, mas sim um melão no lugar dele...
eu nunca te aturei, apenas senti-me tão desesperada como tu e ja n sabia o k fazer para te tirar do buraco em que estavas...saí ctg nakela noite um bocado a sacrifício, mas saí, bastou-me perceber que precisavas e eu nem pestanejei...sempre foste o meu anjo da guarda quando eu precisei, sempre foste aquela pessoa com as palavras certas nos momentos certos, so tenho pena que a sabedoria que passamos uma à outra não sirva para nós mesmas...sabes segredos da minha vida que mais ninguém sabe, partilhei ctg a parte mais escura da minha vida e que nunca vou conseguir partilhar com mais ninguém, mais ninguém...nem amiga, nem namorado...ninguém...conheces todos os meus medos, os meus gostos...foste a única que até hoje sempre me louvou por todas as minhas vitórias, das mais pequenas às mais significativas...ninguém se daria ao trabalho nem à preocupação de me fazer perder uma fobia tão tola como a de nadar, mas não so te esforçaste por me ajudar como ficaste tão feliz como eu...adorei os momentos que passámos juntas...

Ana "Strobe" Mendes disse...

..tenho medo de te deixar sozinha...a vida tem sido muito madrasta ctg, estás tão ferida que por vezes perdes a capacidade de olhar para os problemas com a mesma maneira do dia em k te conheci...miuda destemida e pronta para a aventura...tenho medo que te percas na tua cruzada...por muito que eu tente estar perto...n estarei ao teu lado para chorar as tuas lágrimas...rogo a deus para que te dê um pouco mais de paz...