terça-feira, 29 de setembro de 2009

Incógnita

Abro os olhos na minha madrugada e acordo do meu sonho de cristal... permanece ainda em minha mente o calor do sol que brilhou em minha noite... abro os olhos... acordo de um sonho real e questiono as quatro paredes que o abrigaram se ele chegou a existir... procuro nos recantos do ar que me rodeia a presença do que sonhei, e sei... sei que não foi um sonho, foi real... vejo nas coisas um brilho diferente, como se as coisas tivessem de alguma forma mudado... as pedras da calçada que não se alteram sob o peso dos meus passos brilham como se fossem pequenas estrelas cravadas no chão, outrora tão banal... as paredes nuas das casas... parecem mais firmas, mais sólidas... tudo o que antes passaria despercebido porque sempre ali esteve se torna, se transforma... não é o mundo que muda, mas os olhos através dos quais ele é visto... permanecem ainda em minha mente as dúvidas e o receio de estar a sonhar... Aqui estarei para descobrir....

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Insónia


As palavras ferem como facas, e entoam em minha mente como se eu continuasse a ser o alvo rodopiante constantemente atingido... enquanto a madrugada avançava, eu apagava lentamente as memórias de sorrisos, substuindo-as por palavras ditas com rancor... pela manhã um pedido de desculpas não apaga estas palavras atiradas para o ar com o propósito de ferir... Acordo da minha noite agitada com o toque do telefone e não sei o que esperar quando atendo... o sol nao pode brilhar sempre... la há dias em que o céu se cobre de nuvens... procuro na voz que me fala do outro lado do telefone algum sinal, no bom dia que me diz, algo que me diga se a tempestade ainda está para explodir... "em primeiro lugar, desculpa..." e a sombra foge, mas fica no caminho o rasto do vento forte que acabou de passar... mais virão... vou sempre desculpar...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Vitória

O meu dia hoje não começou bem, para variar não ouvi nenhum dos 3 despertadores... como se isso não chegasse agora ainda há a porcaria da cerimónia de brevetamento... e tu não estás cá... surpreendo-me ainda quando me apercebo da tua ausência em tantas circunstâncias onde antes se calhar nem me apercebia da tua presença... já era um habito tão grande estar formada ao teu lado, eu a primeira, tu a segunda... por causa do tamanho... aquele lugar nas formaturas sempre foi meu, e o teu sempre foi ao meu lado... já estava tão habituada a queixar-me da vida ali ao teu lado, ou a dizer piadas, ou a briga com os mosquitos que parece que no meio de tanta gente é sempre comigo ou contigo que vão ter, precisamente naqueles momentos em que estamos em sentido e não é suposto mesmo mexer...até já estava habituada a levar pontapés teus quando íamos a marchar... fizeste-me falta hoje, sim, porque apesar de eu ser um dos todos os dois reservas que estiveram hoje no treino, havia um pelotão de imensas 9 pessoas (3 eram sargentos), e lá fui marchar... porque sou parva, porque o capitão não me viu, e pensou que só tivesse um reserva, eu é que me cheguei a frente, e na minha vozinha grite, estou aqui eu... e lá fui levantar a arma... e como tenho tanta sorte, calhou-me mesmo aquela que encrava... é que agora lembraram-se de voltar a fazer os procedimentos de segurança... o que vale é que o aspirante (não sei quem é, nunca o tinha visto), pegou na minha arma para fazer os procedimentos e eu fiquei a olhar... fiquei a ver enquanto ele batia com a arma no chão para puxar a culatra atrás, foi giro... mas faltavas lá tu para gozar... ou no treino, se lá estivesses, tínhamos rido tanto... o comandante da esquadra de pessoal já não é aquela anta que nos lixou no ano passado quando concorremos à academia... não houve tanta complicação... só que quem estava com o guião do que se vai passar no dia da cerimónia estava um pouco atrapalhado, acho que o homem deve ser disfónico, ou qualquer coisa parecida... se bem que não era mal pensado que fosse ele e não o capelão a fazer a benção dos brevês.. "ter asas... voar... poder mais perto de Deus...", esta parte eu ainda oiço, depois começo a sonhar com a praia, ou com a minha cama, ou qualquer coisa do género para me esquecer das dores que já tenho nos joelhos... enfim... pode ser que ainda me escape e fique mesmo só como reserva porque hoje houve muito pessoal dispensado por causa de ter ido dar sangue... eu como peso menos de 50 Kg, não posso... enfim... faltas-te lá tu, mais uma vez tive a confirmação de que esta base está muito mais vazia sem ti.
Mas pensei em ti, e lembrei-me que não me podia ir embora sem ir ver se tinhas conseguido entrar para a academia ou não... Mana! Quase que me vieram as lágrimas aos olhos quando vi lá o teu nome, ainda por cima para TMAEQ, é que não só entraste, como também entraste para a unica vaga que havia para a tua especialidade... não imaginas o que fico feliz por ti! Depois da tua vida ter sofrido uma derrocada, tudo acaba por se compor... é uma vitória merecida mana... e a Força Aérea fica a ganhar, sem sombra de dúvidas... e tu, olha... ganhas mais uma licenciatura... fiquei com pena de apesar de todos os meus esforços, não ter sido a primeira a dar-te a notícia... ainda tive esperança quando cheguei ao pé do telemóvel depois de ter entregue a arma e vi a tua mensagem desesperada, por não saberes nada! Depois não atendias, assim que vi que tinhas entrado fui a correr até ao carro, corri o mais depressa que pude, para te contar, para te dizer... Ambas sabemos que agora vai ser complicado, tens três anos de trabalho árduo pela frente, mas tu nunca te assustaste com o trabalho... Tenho pena de não te acompanhar nessa tua nova etapa... mas há alturas em que temos de fazer opções...não sei se me arrependerei um dia, mas neste momento, apesar de o meu futuro estar um pouco desfocado, sei que não é continuar a vestir uma farda que eu quero... estou cansada destas botas... estou cansada, e já não sei responder "sim senhor"... ja refilo por tudo e por nada, já tudo nestas pessoas, nesta instituição me irrita... no ano passado estava mentalizada para tudo isso... estava a fugir... mas agora... agora não tenho mais porque fugir!
Estou feliz por ti mana, e sempre acreditei que conseguias, ainda ontem te disse que era futura cadete! Porque é que tu nunca ligas ao que te digo?
Adoro-te irmã! Força e coragem... sabes que estou aqui quando te quiseres queixar da academia, ou deste ou daquele instrutor! Boa Sorte!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Amanhecer...

Abro os olhos na manhã incerta, na incerteza do amanhã... olho demasiado em frente à procura de respostas que quero já, e esqueço-me de olhar a minha volta, esqueço-me do presente... do meu presente... olho para todos os lados menos para o que me segura os pés firmes em terra sólida... perco-me num rodopiar de pensamentos, rascunhos de planos mal definidos, cego perante a vastidão de pontos de interrogação... e sinto-me só, quando na verdade não estou... quando na verdade não sou! O que seria de mim se não houvesse quem me encontrasse? Se não houvesse quem me arrancasse aos momentos de sofreguidão por certezas? Se não houvesse quem me dissesse: "vai correr tudo bem"? Quem seria eu se me tivesse já perdido no meio de tantas perguntas que insisto em fazer? Parece que nada nunca é suficiente, não paro! Constantemente insatisfeita, constantemente a procura de respostas... e acabo por descurar o que é realmente importante... Perdoa-me!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Para ti



A chuva cai em teu olhar, como se apenas em ti pudesse chover... palavras gastas... também é apenas o que tenho para te dar e quem me dera ter mais... quem me dera poder pegar-te na mão e levar-te aquele sitio da tua alma em que possas finalmente dormir... quem me dera ser um anjo para ti, para poder tocar-te e com meu toque arrancar de ti toda a dor que reside em teu coração... admiro-te irmã... ninguém que eu conheça aguenta tanto de uma vez como tu... poderás dizer-me que te sentes fraca e que não aguentas, mas o que eu vejo é uma mulher que pensa que caiu mas que se mantém de pé e a lutar contra a vaga de catástrofes naturais com que foi assolada de uma vez só... quem me dera... poder pegar-te na mão e trepar contigo esta montanha íngreme... quem me dera que o facto de eu sentir dor pela tua dor te aliviasse o fardo que carregas ao ombros... o peso do mundo... Queria poder curar o teu pai, estalar os dedos e fazer com que o tempo passasse para que pudesses curar as tuas feridas do coração e para te arrancar a esse suplício para onde as tuas escolhas profissionais te lançaram... queria poder ser para ti o que foste e és para mim, queria não ter estado de serviço no sábado... teria ido ter contigo sem pensar duas vezes... (nao garanto que ainda tivesse chegado no sábado... já conheces o meu sentido de orientação) mas teria feito tudo para aliviar essa tua cruz, nem que fosse apenas por momentos...
Olho para trás... tempos idos que não voltam.. Lembras-te deste dia?
Os teus 23 anos... há quanto tempo? Não me lembro se és mais nova que eu um ou dois anos, portanto, ou foi há 2 ou 3 anos... parece que foi noutra vida... recordo com saudade de dias como este e enchem-se meus olhos de lágrimas quando me apercebo que foram dias que não voltam mais e que as nossas vidas seguiram caminhos separados... dói-me porque sei que não poderás ligar-me para ir ter contigo só para chorares no meu ombro... da mesma forma que também eu não o poderei fazer... dói-me que neste momento não o possas fazer porque sei que onde estás, ninguém te compreende como eu te compreendo. Queria... queria poder pegar-te na mão, agora que estás meio cega, meio perdida, e guiar-te através dessa escuridão que te rodeia... guiar-te até te trazer um pouco de luz, um pouco de paz... até poderes acreditar...
Adoro-te mana! Nunca estarás sozinha... de mãos dadas...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um dia qualquer em 1995














É como se eu não fosse de cá
Tivesse nascido do nada
Num universo longínquo
Sem estrelas, sem sol...
Apenas um planeta gigante
Que nem sequer é redondo
E tudo o que nele existe
São cores mortas, cores tristes!
Onde não existem árvores
Nem mar, ném pássaros...
E que eu tivesse nascido nele
Por ele ser inútil
Para eu ser inutil também...
Esse planeta
Onde sinto que nasci
E que nao existe, mas existe
Porque é nele que vivo
E ele vive em mim...
Porque alguém lhe dá vida,
Alguém deu vida à sua morte
Que é apenas a realidade de alguém.
Onde as palavras, que não existem,
Se contradizem mutuamente, sem falar
E que parece que está longe
Mas não está!
Está mesmo aqui
E é nele que vivo.
É complicado perceber
Mas é uma simples questão
E não é só uma mão
Uma simples mão
Que escreve esta infinidade
De palavras sem sentido
É um coração sozinho, perdido!
Abandonado num planta plano
Sem contos de fadas
Sem uma história para contar
De geração em geração
Porque isso é coisa que nem sequer existe...
Um planeta onde não existe cor,
Nem luz!...
Existe apenas...
... apenas...
... apenas a monotonia da escuridão!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

As lágrimas que caem de meus olhos secarão... o caminho tornar-se-á escuridão novamente e perder-me-ei... agarrada a sonhos destroçados, a porquês sem resposta... continuo um caminho que não é meu, porque já nem sequer caminho é... perco-me novamente... alguma vez me encontrei? E olho para trás e não vejo, não sinto... não sou de verdade... Sou sombra que vagueia por um mundo onde nunca pertenceu, para que cá vim? O que faço aqui? Permaneço ainda sem assumir uma derrota, braços cansados, caídos mas ainda empunhando armas porque não me dou por vencida! Sabia que teria de ser assim... sabia, sempre soube que tenho de lutar por mim... e por ti! Tenho de lutar pela minha sanidade... e pela tua... Sofrega carrego o peso de duas cruzes... não me queixo, apenas não consigo conter as lágrimas de dor! Procurarei sempre uma saída... tu sabes que sim.... não te percas como um dia estive perdida... não terás força para te encontrares sozinho... eu não tive!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Mana

Estou aqui, embora às vezes não pareça... estou aqui mana, para ti como estás para mim... perdemos-nos as duas em sincronia e encontramos-nos também uma na outra... a vida tem sido demasiado cruel com as duas... ao menos isso temos em comum... estou constantemente a precisar da tua serenidade, estás constantemente a precisar do meu colo, pensamos as duas que estamos constantemente a seguir caminhos errados, mas até um relógio parado está certo duas vezes por dia. Preciso do teu abraço, não sabes a falta que me fazes... Os nossos caminhos cruzaram-se um dia, em Vila Franca... a 11 de Maio de 2003, o dia antes de eu entrar para a recruta... e partiste agora, sei que não me deixas sozinha, da mesma maneira que não partes sozinha, mas falta-me a tua presença, porque às vezes sinto que me vou perder tanto ou mais do que já estive, e foste tu quem me agarrou a ponta dos dedos quando eu já ia em queda no abismo, e vivo constantemente no limiar de cair... Sei que também não estás bem, sei que tens os problemas todos da tua família, depois a vida que escolheste para ti não tem sido fácil, sabias que não ia ser, mas uma coisa é saber, a outra é viver... e por momentos gostava de ter concorrido também, de ter entrado para te acompanhar... Não sabes o que me doeu a mensagem que me mandaste há bocado a dizer que tinhas pena de eu não concorrer ao CBT para irmos juntas... pode ser que agora consigas, eu acredito que consegues, ninguém pode ter tanto azar duas vezes... acho que fui eu que te dei azar, eu por mim já tenho de sobra portanto, às vezes partilho sem querer (risos)... ao menos o 18 a Matemática sempre me serviu para ir para a faculdade, embora ainda não consiga ver de que maneira é que isso foi benéfico para mim... Estou com um discurso um bocado desconexo...já sabes como sou... tenho saudades tuas mana... e não te esqueças que ainda cá tens de vir buscar a biciclete...
Gostava de ter também uma foto nossa, mas todas as que tiramos foram com a tua máquina e tu nunca mas passaste. :b