quarta-feira, 8 de julho de 2009

Para ti, Ana!

Estou a escrever isto atacada por um choro convulsivo que ainda nao consegui parar, o ollhos vêm turvo por entre as lágrimas, é como se o coração se quisesse manifestar mais do que o que pode. Os 4 abraços que me deste quando te despediste nao chegaram para me fazer passar a tristeza e a dor que sinto ao ver-te partir. Não que não esteja feliz por ti por teres finalmente recebido alguns louros do teu muito esforço, mas já não estas aqui. Deixas um quarto vazio da tua presença, quase tão vazio como o meu mundo sem ti aqui. Eu sei que a amizade não acaba por te ires embora, mas não é a mesma coisa, nestas ultimas horas que passei contigo la no quarto, e enquanto discutias com o Diogo ao telemóvel, estes anos foram-me passando todos pela cabeça, anos esses que não irão voltar mais... não vão haver mais cigarros nas escadas de emergência, conversas as 3 da manhã só porque sim, ou porque uma de nós não estava bem, ou até mesmo as duas. Já não vou ficar com vontade de te matar de cada vez que me deixas um quarto de hora a espera à frente da messe com um frio de rachar, não vou mais estar constantemente a receber telefonemas desesperados teus a perguntar como é que se fazem as folhas de curso, ou para quem é que tens de mandar a NSI para isto ou para aquilo, ou para me pedires que te mande uma participação de equipamentos de voo porque a Romão foi-se embora e apagou tudo. Não me vais mais telefonar furiosa porque não sabes fazer a ORDOPS e não vais ficar mais furiosa ainda quando eu te digo que a ORDOPS não pode ser só uma página e que tem de ter um espaço no canto superior direito para pôr o número, ao qual tu me gritas "NÃO ESTÁ CÁ NADA"... Não vais mais chegar atrasada para o almoço porque te espetaste das escadas das Operações abaixo e me apareces toda suja porque era inverno, estava a chover e estava tudo molhado e cheio de lama. Não vais mais ligar-me assim que chego à esquadra a pedir para eu ir ter contigo porque precisas de colinho, e não me vai mais doer ter de te dizer para esperares só um bocadinho porque ainda tenho de ir ao briefing, que curiosamente neste dia, e só por ser neste dia, se atrasaou e se prolonga porque há uma aluno qualquer que foi apresentar um briefing sobre segurança de voo. Não vão mais acontecer este tipo de coisas que aconteciam quando estavas cá! É duro quando a realidade nos cai em cima como um relampago e nos apercebemos, finalmente, que aquilo que já sabiamos que ia acontecer, está mesmo a acontecer!

Lembro-me de quando te conheci, em Vila Franca na estação dos comboios, tu já estavas em curso e eu ia entrar para a recruta no dia a seguir. Lembro-me de andares lá, tu e o pessoal do teu curso, no meio do pessoal da recruta a avisar, dissimuladamente porque voçês não podiam falar connosco, que nós iamos ter uma daquelas noites que todo o recruta receia... as famosas caminhadas nocturnas pelo meio do mato, com a famosa mochila, a G3, o capacete (que na altura era de ferro, e não de plástico, como são agora) e o cantil preso no cinturão (que tinha de ir ou cheio ou vazio porque se não fazia barulho)... Lembro-me de imediatamente a seguir a saber a minha colocação que te mandei uma sms a dizer que ia para o pé de ti e que me apresentava em Beja na segunda-feira... Lembro-me... Lembro-me de tanta coisa porque há muito para lembrar! Das nossa zangas que passavam em 5 minutos.

Nós somos... sempre alvo de muita inveja porque as pessoas não podem compreender como é que duas pessoas confiam de olhos fechados tanto uma na outra! Tanto veneno que tentaram meter, tantas pessoas que tentaram tirar o meu lugar porque não percebem que a amizade que nos une é um laço mais forte do que um laço de sangue precisamente por isso, a amizade não se deve, dá-se! A amizade não se exige, pura e simplesmente acontece...

Lembras-te das nossas aventuras nocturnas? Daquela história que ainda hoje vive no meu antigo quarto? Daquela noite que tive de ir dormir contigo porque até eu entrei em pânico, a Vanda é que não gostou muito dessa história. Lembras-te das noites em que eu estava de serviço e tu me perguntavas se eu não me importava que tu estivesses a estudar? E depois nunca estudavas, punhas-te na conversa comigo... E daquele riso quase infantil, convulsivo com que facilmente desanuviavamos dos nossos problemas porque uma de nós se lembrava e fazia uma piada com o próprio problema...

Olho para trás e vejo, e sei, que me teria perdido se não tivesses estado lá há dois anos, se não tivesses sido o meu amparo, a minha tábua de salvação... Eu estava tão perdida, tão confusa, tão a entrar num estado de depressão, e lembras-te das tuas palavras? "Chega! Tu não te podes deixar cair nesse estado de depressão, não podes deixar de reagir, assim vais-te perder! Tu és forte, tens de contrariar esses sintomas, se não tens vontade de sair, sai, mas faz qualquer coisa porque não podes ficar assim", eu via raiva nos teus olhos, não de mim, mas do que se estava a apoderar de mim e da impotencia para me ajudar que estavas a começar a sentir...
E depois a tua mania irritante de me aconselhares com as minhas próprias palavras...

Tu para mim és a menina que não teve oportunidade de ser criança, és a mulher de armas que por mais que a vida tente derrubar, não baixa os braços...

Agora já acalmei, com as escrita, as lágrimas cessaram mas o coração continua a sangrar... Metade da minha força residia no facto de te saber perto. Eu podia entrar no quarto as 3 da manhã lavada em lágrimas que tu não me repelias.

E o dia em que fiz os 27 anos? Fui à tua esquadra e tu foste-me buscar um croissant com duas velinhas, foi o meu unico bolo de anos, sabias? Eu quis guardar as velas e pu-las na porta do carro, só que como sou tão distraída como tu, esqueci-me lá delas e derreteram... ainda lá estão que eu não sei como é que vou tirar aquilo, volta e meia fico com um pedaço de cera enfiado nas unhas quando fecho a porta do carro...
Eu poderia passar aqui o resto da noite a descrever todas as memórias que me invadem, mas tu conhece-las todas. De todas as vezes que chorámos a dor uma da outra, porque eu não consigo sentir-te triste e ficar indiferente e tu também não. Ou do amanhecer... que mau feitio ao acordar!!! tanto uma como a outra. Nenhuma das duas abre a boca para dizer nada quando acorda, só depois de vir da casa de banho, o engraçado é que isto nunca foi combinado e sempre foi assim...

Miuda, tenho tantas saudades tuas... custa-me tanto ver-te partir. Eu sei que é egoista, mas já me estou a sentir tão sozinha...

Sabes que te desejo toda a sorte do mundo e que estou muito feliz porque pelo menos uma de nós conseguiu alguma coisa. Sei que nunca vou perder a tua amizade, mas já nada vai ser igual.

Boa Sorte!

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