segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Para ti mana

Olho à janela e perco-me em pensamentos, tentando imaginar a angústia que te consome, mas não consigo... a partir de determinada altura a minha imaginação não é suficiente para conseguir chegar perto do que se sente quando se perde um pai... Há tanto que gostava de fazer por ti, e por mais palavras que tenha para te dar, porque é apenas isso que se tem nestas alturas, isso e o silêncio, mas nem palavras nem silêncio te aliviam o fardo da dor que carregas no peito.
"Perdi o homem mais importante da minha vida..." são palavras que no silêncio não consigo deixar de ouvir, e no fundo sinto um pouco de remorso por não ter sido eu a estar lá para te segurar quando o teu telemóvel tocou com a triste notícia. Nada do que eu diga aqui ou mesmo pessoalmente vai mudar o teu estado de espírito. Senti que foi tão pouco ter ido ter contigo na sexta-feira, apesar de me ter apercebido que fui um pouco uma lufada de ar fresco naquela que se tornou agora a tua realidade.
Continua a ser tão pouco...
Apenas te quero relembrar que não estás sozinha no mundo... mana, quando não estamos sozinhos vale sempre a pena lutar, não te deixes vencer pelo cansaço da dor constante... Apenas acorda todas as manhãs para mais um dia de luta e não esperes... apenas vive um dia de cada vez... melhores dias virão, é uma promessa... e depois de tudo o que passamos juntas, de todas as histórias em que me "obrigaste" a acreditar, mesmo quando eu te dizia que era imaginação minha, agora és tu quem tem de acreditar... O teu pai ver-te-á com os galões de oficial, e não haverá pai mais orgulhoso no universo...
E não voltes a dizer nem mesmo para ti que não lhe deste motivos de orgulho, quando tu foste a filha que nunca o abandonou, e foste a que conseguiu ir mais longe... Quando ele partiu deste mundo partiu com uma certeza pelo menos, que tu realmente foste a que foi mais longe, e ainda estavas só a meio do caminho...
Tens força para superar tudo, e no fundo tu sabes que sim... Não te desinteresses agora do que tanto te custou a conquistar...
Estou contigo irmã... hands held... forever!

1 comentário:

Ana "Strobe" Mendes disse...

quase de lágrimas no rosto acabo de ler o teu post...fiquei colada a cadeira...nada do que faças é pouco, e do pouco que podias fazer, fizeste muito, e isso bastou-me...percorreste imensos quilómetros só para me dar conforto...e isso nunca irei esquecer...é verdade que a dor que me acompanha é muita, é verdade que todas as minhas crenças foram abaladas em fracções de segundo, custa-me verdadeiramente acreditar que perdi o homem mais importante da minha vida...não só o perdi como toda a luta de o fazer viver para me acompanhar neste meu percurso árduo foi lançado por terra, era por ele que tolerava toda esta angustia de um dia a dia quase insuportavel...mas tens razão, um dia de cada vez, irei reconquistar um novo porquê de tudo, talvez um dia eu consiga ver que tudo voltou a fazer sentido. Mas neste momento, sinto-me escrava de um destino que tracei para mim, um destino que julguei vir-me a fazer feliz, sinto-me sufocada e com pouca vontade de continuar. Ainda não sei bem o que ando a fazer, e onde vou parar, só sei que antes de mim, tenho a minha mãe, a perda do meu pai fez-me ver o quão eu preciso dela e ela de mim, somos uma espécie de simbiose neste mundo cão, ela acha que sem mim não teria forças, e eu acho que sem ela não iria conseguir continuar a lutar.
Infelizmente, e da pior maneira, começo agora a dar importância a coisas que nunca havia reparado antes...é irónico olhar para tudo à minha volta e sentir tanto a ausência do meu pai, pq é que no meu dia a dia anterior isso não acontecia? Sinto-me revoltada por não ter dito mais uma vez adoro-te, de ter desperdiçado a oportunidade de o mimar mais um pouco em vida, de lhe ter dado ainda mais atenção, de tudo o que podia ter feito e não fiz...hoje, além da angustia e dúvida, sinto revolta, estou cansada de toda a dificuldade de que o meu caminho é acompanhado, cansada de ter de lutar três vezes mais para conquistar uma migalha que seja, e no fim de tanto lutar, ainda assim, perder essa migalha...