sábado, 28 de fevereiro de 2009
Vazio
As vozes gritaram, não quis ouvir, os sonhos mostraram, fechei os olhos... O destino ergueu-se da lama, do lodo, tocou-me, nojento! Desenterrou do fundo do túmulo o que a morte tinha levado, varreu o pó das memórias e tudo regressa a um aviso, tudo regressa ao que ouvi e vi... Estava escrito nas linhas do destino que assim teria de ser... Que tinha de morrer, de me sepultar, de ser vazia, de tudo e de nada, porque havia demasiado vazia nas coisas que sentia e depois... Demasiado vazio no vazio!
Sufoquei, gritei, gemi! Tinha de me libertar, de me prender, de viver, de ser tudo e ser nada, porque a sombra sempre me acompanhou... Fugi, mas não consegui escapar, nunca me poderia esconder...
Sou... Nem sei mais... Somos o que vivemos... Quando não vivemos, somos o quê?
Roubaram-me primeiro a inocência e deram-me guerra, depois tiraram-me a guerra e deram-me paz, no meio tempo foram-me dando e tirando tudo quanto havia de bom e de mau! Depois... Tiraram-me a alma, a esperança, tiraram-me de mim, e quando pensei que não poderia estar mais perdida...
... Roubaram-me também a dignidade!
Agora...
... Estou apenas...
... Sentada na beira do rio...
... Hei de ver-te passar!
19Jul2007
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Divagações
Ouço os passos turvos da escuridão, protejo os olhos da falta de luz… O mundo volta a rodar no mesmo sentido, mas eu já não sou!...
Palavras sábias em bocas impuras obrigam-me a reconhecer… Que nunca nada está certo…
Abraço a solidão na beira do abismo… Neste lugar inóspito foi ela que escolhi como companheira!... Foi sempre ela que me acompanhou em momentos difíceis…
Lavo as mãos no silêncio das palavras rasgadas num pedaço de papel, onde os pingos de tinta caem como lágrimas, onde se gravam as certezas e as dúvidas…
Rezo baixinho na esperança que alguém me ouça e suplico por um segundo de luz, só para saber que ela existe… que ela não morreu!
Visto a penumbra da noite e aclaro a voz para não mais gritar, porque a corrente de palavras não ditas abandonou o rio do meu leito e percorreu com a tempestade o caminho traçado pela caneta do destino, mas eu fiquei! Eu que sempre corri, parei e nem me apercebi!
Hoje procuro as lágrimas que o meu coração reteve, mas secaram…
Hoje o mundo em que a neve cai, é negro, porque apenas vejo pedaços de carvão, caem em minha pele, riscando-me da vida…
Nada é como sonhei, nada no mundo se manteve igual e nada ficou diferente… Apenas o vazio permanece em frente a mim, colado à minha alma como lapa, palpável, frio, cruel!!
Hoje não sou nada nem tenho paz porque não estou em guerra! Não me alcanço porque não paro de me fugir!
Não sinto como o mais comum dos mortais! Hoje fui ninguém porque alguém me vê!
O desespero bate-me à porta pintado de azul e a revolta dá voltas para me obrigar a gritar, mas também já perdi a voz.
Fui um dia uma alma!
Só
O vento deixou de soprar-me ao ouvido
A tempestade amainou
Os caminhos clarearam
Tudo se transformou
O dia nasceu…
O vento deixou de me apontar
O caminho a seguir
As vozes que me gritavam à alma
Ficaram mudas…
… O vazio dissipou-se!
As sombras cantavam à noite
Gritavam às estrelas
Pintavam no céu uma escuridão
Mais densa…
Mais negra…
Ouviam a luz das estrelas
Tão distantes…
E choravam…
Lágrimas vazias de dor!
Tudo me rodeava
Num deserto de sombras
Tudo me envolvia
Num vazio intenso
E tudo se dissipava
Deixando-me perdida…
… À procura de um caminho de volta!
07-03-2001
Sonhos
Procurei-te lá
Onde nuvens se incendeiam
Em vivas cores de negro!
Procurei-te nas palavras que não disse
Nos sonhos que não sonhei
Procurei-te no meu destino
Mas não te encontrei
Porque os sonhos existem apenas
Para serem sonhados
Nunca vividos!
Procuro no horizonte a estrela
Aquela cujo brilho
Ilumina os meus passos
Deixo atrás de mim
Sulcos de profunda tristeza
Veigos de dor
Fendas que simbolizam
Um caminho de tortura infindável
Num rosto sem esperança
Numa mente sem ilusões!
Tudo isso se vai desvanecendo
À medida que avanço
E me perco cada vez mais
Nunca poderei sair!
Não desta vida
Não desta estrada
Nunca sairei vencida
Porque vou sempre lutar
Mas da mesma forma
Nunca sairei vencedora!
16-09-2003
Lá ao longe
Lá ao longe
Onde o céu é azul brilhante
Onde os lagos sonham, imóveis
Onde o mundo não odeia,
Nem despreza a Natureza
Porque só ela lá existe.
Lá ao longe
Tão longe daqui!
Um mundo que é só meu
Todas as noites!
Um mundo que só eu conheço
Onde a fantasia e o sonho
Passeiam de mãos dadas
Pelos prados verdes
Um mundo onde não há noite
Mas tem luar,
Mas é apenas mais um mundo
Que não existe…
… Lá ao longe!
13-06-1998